O amor mora nos detalhes

Luciana tinha apenas 18 anos quando conheceu José. Jovens, livres e desimpedidos, viveram o que costumamos chamar de amor de verão — desses que não sobem serra.

Era pra ter ficado só nisso, mas Luciana engravidou. Ela e José não ficaram juntos, mas podem dizer que a “pegação” rendeu um presente — e surpresa — muito maior do que jamais esperariam: Thays.

A pequena passou os primeiros meses de vida com a mãe que, mesmo muito jovem, fez o melhor que pôde para cria-la.

Quando Thays completou 9 meses, dona Terezinha — sua avó paterna — perguntou se poderia levar a neta para morar com ela.

Com um futuro sem muitas perspectivas e sonhando em dar uma vida melhor para a filha, Luciana aceitou a proposta e foi para São Paulo em busca de emprego.

Dona Terezinha tinha 45 anos na época. Mãe de 4 filhos e divorciada, trabalhava como costureira para poder sustentar a casa. A rotina e o orçamento eram apertados, mas amor e dedicação não lhe faltavam.

  • Dizem que, quando duas pessoas percebem que existe uma conexão entre elas, é impossível controlar os sentimentos. Terezinha não sabia explicar ao certo, mas desde que sua netinha chegou, o mundo encheu-se de cor.

Mesmo com todos os afazeres, acordava cedo para fazer a vitamina de Thays e leva-la para a escola. Ajudava a neta nas lições de casa — sendo analfabeta funcional — e morria de orgulho ao ver o gosto que a garotinha tinha pelos estudos.

Alguns anos depois… o mundo de dona Terezinha perdeu a cor. Luciana conseguiu um emprego e — seguindo seus planos — foi buscar a filha para morar com ela em São Paulo.

Este capítulo da vida foi muito difícil, tanto para a avó, quanto para a neta, que não sabiam mais viver afastadas. Luciana queria se aproximar de Thays, mas no fundo sabia que o laço da filha com a avó paterna nunca seria desfeito.

Indo contra os anseios de seu coração — mas pensando no que seria melhor para sua filha — Luciana deixou Thays com dona Terezinha, e as duas seguiram a vida juntas desde então.

Faziam cortes de cabelos iguais e iam ao shopping tomar sorvete de casquinha. Ficavam só olhando vitrine, mas o que importava mesmo eram as longas conversas e os braços dados — que não poderiam ser encontrados em loja alguma.

Thays só usava as roupas que dona Terezinha costurava para ela e fazia inveja nas coleguinhas que nunca teriam o privilégio de usar aquelas exclusividades. Na verdade, pouco se importava com os vestidos, mas levar um pedacinho da avó no corpo era como ter a certeza de que nunca estaria sozinha.

  • Há 5 anos, dona Terezinha foi diagnosticada com Alzheimer.

Ela já não reconhece as pessoas ao seu redor, mas consegue dizer através do olhar o quanto ama — e cuida — de toda a sua família.

E é através desse olhar que Thays aprendeu que o amor mora nos detalhes e que só lhe resta agradecer pelo privilégio desse encontro.

Contar essa história foi o jeito que ela encontrou de reviver essas memórias e honrar tudo o que sua avó já fez por ela. Enquanto muitos passam a vida procurando um amor, Thays não se preocupa: já nasceu neta do amor da sua vida.