O amor está nos detalhes
Ensinaram que o amor é construído de grandes atos e demonstrações exacerbadamente públicas de afeto. Vimos Romeu morrer envenenado por amar demais, crescemos lendo romances infinitos e cheios de bravura, com príncipes em cavalos alados derrotando uma horda inteira para salvar a pobre donzela de alguma torre inóspita.
- Adultecemos com essa visão torpe sobre o amor.
Mas o amor – o real, o palpável, cotidiano – é construído nos pequenos detalhes; nos pequenos cuidados; no simples gesto que quebra a rotina e faz o tempo parar por dois segundos ou mais, entre trocas de olhares sinceras e algum riso mais intenso.
O amor é percebido no toque. Naquela puxada de mão dentro do carro, quando os dedos se enroscam e um beijo é depositado no dorso da mão, que retribui o beijo com um carinho de polegares enquanto as bocas seguem debulhando os problemas, os acasos, os acontecimentos de uma semana comprida.
O amor é percebido no cheiro. No perfume de café recém-coado, enquanto o outro ainda se espreguiça na cama. Na mesa posta com carinho; no beijinho de nariz deixado na base do pescoço adormecido, enquanto sussurra um “vem, o café tá pronto”.
O amor se desmancha quando mão puxa braço, deixando a preguiça se esparramar num abraço-concha e a rotina atrasar cinco minutinhos que valem por uma vida inteira.
O amor é percebido nos detalhes. No chocolate favorito deixado em cima da mesa, nas flores que colorem o vaso, no bom dia rasurado no vidro embaçado de frio. O amor vem no pão doce comprado para o café da manhã — “porque você gosta” —, no mamão cortado, no abraço dado no meio da rua, no jeito doce de aquecer outra pessoa, arrumando o edredom que não cobria toda a pele.
O amor acontece. Todos os dias.
E feliz daquele que o vê.