Intensidade e sorvetes
Fonte: Diário de uma Paixão (2004)
Toda vez que eu peço sorvete eu acabo com o pote. A quantidade é o menos importante. Eu gosto tanto de sorvete, que eu vou até o final. Se eu peço uma casquinha, eu como até a última mordida, se eu peço no copinho, dá vontade de comer o plástico. E se é delivery, dificilmente a embalagem volta pro congelador “por terminar”.
Tenho uma capacidade ímpar de matar 500ml de sorvete em 10 minutos de série no sofá. Eu sempre fui assim. Com sorvete ou qualquer outra coisa que eu goste. Não é que eu gosto. É que eu amo. Eu chego a pensar que não poderia viver sem aquilo. Será que eu ainda tô falando de sorvete?
- Eu tenho um temperamento exagerado. Basta me conhecer só um pouquinho que já dá pra notar que tudo o que eu conto vem aumentado.
Eu nunca espero 10 minutos, é sempre algo em torno de 10 horas. Eu jamais ando 1km, sempre são 100 mil km. As pessoas já sabem: “quando conto uma coisa, diminua 30% do relato pra chegar à verdade”. Não é de propósito.
Eu sou muito. Eu sinto muito. Eu gosto muito. Odeio muito. Preciso muito. Sou tudo ou nada. Oito ou oitenta. E sempre gostei de ser assim. Encho a boca pra dizer que a gente tem mesmo que se jogar de cabeça, que não adianta nada só viver pela metade. E, claro, nos relacionamentos que tive ao longo da vida eu não poderia ser diferente.
Valorizo a paixão como única forma de demonstração de amor, busco cada dia mais sinais pra me apaixonar pelo outro — mesmo já estando junto há algum tempo — e prezo pelos altos (e baixos) de um relacionamento mais do que pela calmaria de uma rotina linear.
Eu vejo todo romance como eterno (até que se prove o contrário). E, embora sempre tenha amado essa minha vivacidade, já houve dias em que eu queria diminuir essa intensidade como abaixo o botão de uma música alta que está perturbando minha tranquilidade.
- Sentia que as pessoas achavam que eu tinha que só que gostar de sorvete. E de tudo. Que romantizar essa intensidade estava errado. Que esse exagero todo ia acabar me prejudicando.
E, se por um lado há pessoas que vivem muito bem na sua nota 7, eu preciso oscilar entre o 0 e o 10 de forma súbita. Gosto de olhar para uma viagem como algo grandioso, gosto de ver meus relacionamentos (amorosos ou não) como elos importantes pra me manterem viva e em pé, gosto de sentir que estou vivendo como se hoje fosse meu último dia nesse plano.
E, por mais que isso me deixe exausto às vezes, se eu tiver passado meu último dia jogado no sofá vendo série, não me abalo: aquilo foi necessário para que meus outros dias pudessem ter sido vividos na intensidade em que foram.
Pra mim, viver é isso. Aproveitar cada minuto, saber usar cada brecha. Fazer valer meus momentos. E eu sei, isso pode me levar pro alto da montanha ou pro fundo do poço. Mas com a cabeça certa é possível me salvar dos dois. Eu prefiro ter uma vida com altos e baixos do que uma que fica sempre na metade do caminho. E você? Faz parte do clube dos intensos?