Ainda dá tempo

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Desde pequena, a Raphaela sempre foi muito ligada na sua mãe. Não apenas aquela relação normal de quem é do nosso sangue, mas uma conexão que parece ir além dessa vida.

  • Quando ela completou 12 anos, seus pais se divorciaram e a ligação entre as duas se intensificou ainda mais. Eram inseparáveis.

Há quem diga que uma família de duas pessoas é muito pequena, mas o brilho delas ocupava tanto espaço que a mesa ficava sempre cheia — e nem precisava de mais ninguém pra completar.

Dona Sandra era mãe, pai e ainda segurava as contas de casa sem nunca tirar o sorriso do rosto. Nas palavras da Rapha, ”crescer com ela era um manual de instrução pra vida”.

Como a prioridade sempre foi criar a sua filha, até ela completar 18 anos, a Sandra nunca tinha se relacionado com mais ninguém.

  • Inclusive, quando surgiam pretendentes, a Rapha já ia cortando. Afinal, sua mãe “merecia bem mais do que esses marmanjos que existiam por aí”.

Porém, como o ciúmes não dita tudo nessa vida, a Sandra passou a namorar os marmanjos sem a benção da sua filha. A Rapha não interferia mais, mas também não fazia questão de conhecer nenhum deles.

Ao completar 25 anos, o bolo de aniversário chegou junto com um balde de água fria: sua mãe iria se casar.

Nessa altura do campeonato, a Rapha sabia que era de se esperar uma atitude mais madura da parte dela, mas o medo de perder a Dona Sandra foi maior — “como é que você vai se casar com alguém que mal conhece?”

  • Além de se negar a tocar em qualquer assunto que envolvesse a troca de alianças, ela foi firme ao dizer que não compareceria ao casamento.

A Raphaela imagina que essa é a hora dos leitores torcerem o nariz, e se perguntarem como ela teve coragem de fazer algo tão egoísta com alguém que só lhe deu amor.

Entretanto, na época, o seu pensamento ia no sentido contrário: como uma pessoa que viveu em função de amá-la, estaria pensando em ir embora?

É… A ideia mesquinha até que durou, mas foi um riso despretensioso da Sandra que fez a Rapha mudar de ideia. Usando as palavras de Valter Hugo Mãe, ela só desejou que “sua mãe fosse tão propensa ao sorriso quanto o pudesse ser”.

  • Assim, faltando 1 mês para o casamento, ela se reuniu com o cerimonial e decidiu que levaria a sua mãe até o altar — de surpresa.

Quando chegou o grande dia, a Raphaela acordou com uma cartinha da sua mãe embaixo da porta. Seu coração ficou em pedaços, mas ela seguiu com o plano e disse que já estava decidida.

Se preparando para caminhar até o altar sozinha, a Sandra teve uma surpresa: a Raphaela estava lá, pronta pra segurar a sua mão, e mostrar que, finalmente, ela aprendeu o que é amar.

Apesar de ter borrado a maquiagem de todos os convidados, o resto do casamento foi só alegria. Aos trancos e barrancos, a Rapha descobriu que não existe nada mais gostoso do que a felicidade de quem a gente ama.

Finalizando com a passagem bíblica preferida das duas, “o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor”.