A família que a gente escolher
O seu Pedro sempre amou o Natal. Ele também é apaixonado pelo Vasco, gosta de uma cerveja gelada e de ler jornal impresso, mas fala que esse tal de Natal é a maior das suas paixões.
- Ele é casado com a Maria Conceição e tem três filhos: Maria Conceição Filha, Josiane e Wellington.
Os dois começaram a namorar na adolescência, quando tinham apenas 16 anos, e hoje já acumulam quase 30 anos de relacionamento, com muito amor, parceria e algumas brigas pra apimentar a relação.
Vira e mexe, o seu Pedro escuta alguém dizer que ele deveria ter aproveitado melhor a vida, mas discorda. Pra ele, não existe proveito melhor do que passar o dia com a sua família.
Falando de vida profissional, o seu Pedro trabalha vendendo lanches na porta de um colégio no Rio de Janeiro.
Começou vendendo chicletes, mas logo viu uma oportunidade boa: com a cantina que vivia subindo o preço, os alunos adoravam almoçar o cachorro-quente que a Maria Conceição fazia.
Assim, juntos, eles montaram um bom negócio: ela, que tinha talento na cozinha, preparava os lanches. Ele, que era bom de conversa fiada, brilhava no papel de vendedor.
- Essa ideia já está prosperando há mais de 20 anos, e o seu Pedro diz que, pra ele, todos os alunos que passam por aquela escola são como filhos.
Ele já escutou desabafo de quem estava sofrendo porque ia tomar bomba. Já aconselhou quem pensou que um término na adolescência seria o fim do mundo e já consolou quem não tinha muitos amigos na sala.
Em uma dessas conversas com quem não se dava muito bem com os outros colegas, ele conheceu o João.
O menino não tinha muitas coisas em comum com o seu Pedro. Não gostava de futebol, não podia beber cerveja e nem lia jornal impresso… Mas os dois se entenderam nas diferenças.
O João gostava de jogar videogame e assistir filmes de super-herói. Adorava McDonald’s e só trocava o cheeseburger especial pelo cachorro-quente que o seu Pedro vendia na porta do colégio.
- Quando foi chegando dezembro, o seu Pedro perguntou pro João se ele estava animado pro Natal.
De cabeça baixa, o menino respondeu que não comemorava a data. Seu pai vivia viajando, sua mãe passava o dia 24 com a família do seu padrasto, e sua avó dizia que “era um dia como qualquer outro”.
Depois de escutar isso, pela primeira vez na porta daquela escola, o seu Pedro ficou sem palavras.
Chegou em casa desolado e contou a história pra Maria. De prontidão, ela deu a sugestão: “que tal convidá-lo pra passar o Natal aqui em casa? A ceia é simples, mas sempre tem lugar pra mais um”.
- Hoje, já se passaram 10 anos desse primeiro convite, e é a décima vez que o João vai passar Natal com a família do seu Pedro.
Ele já tem 25 anos, é formado em Direito e acabou de passar no concurso da Polícia Militar, mas continua seguindo essa tradição que foi iniciada quando ainda estava no colégio.
Pra quem acredita que o Natal é só pra lotar o shopping, gastar com presentes e celebrar com os parentes de sangue, o João discorda.
Desde que foi acolhido pelo seu Pedro e pela Maria Conceição, a ceia do dia 24 ganhou um novo significado. Na busca do espírito natalino, ele garante: não há laço mais forte do que o da família que você escolhe.